Belta

Intercâmbio: hora de abrir portas e expandir horizontes

Desembarquei em Londres para um intercâmbio de inglês de quatro meses no final de 2010, em uma época em que o sol era uma raridade e o céu escurecia às quatro e meia da tarde. O muçulmano colega no curso de inglês, a família polonesa, o refugiado sudanês, o rock vindo dos pubs, a neve, o chá com leite e os parques e museus inacreditáveis insistiam em escancarar que eu estava em uma nova realidade cultural, social, econômica e política.

Foi diante de um cenário efervescente característico da Terra da Rainha que cruzei com as histórias de vida mais fascinantes. Eram pessoas que saíram de suas cidades natais em busca de superação e luta por mudança ao se permitirem aprender uma língua e uma cultura diferentes.

Encontrei dois gêmeos cariocas que trancaram as faculdades de desenho industrial e engenharia elétrica no Rio de Janeiro e se tornaram mochileiros na Europa. Eles trabalhavam durante oito meses e viajavam outros cinco sempre aprimorando o idioma.

Estudei com uma administradora de empresas que largou o emprego estável em uma grande empresa em São Paulo e embarcou para um intercâmbio aos 40 anos de idade, sozinha e falando quase nada de inglês. Ela retornou ao Brasil mais corajosa, independente e segura na vida. Outra, descendente de japoneses, comprou um trailer e seguiu aos trancos e barrancos pelas estradas europeias em busca de descobertas e no aprendizado de novas línguas.

Essas vivências, o choque cultural, os sonhos e a ideia do priorize, planeje e faça acontecer sua vida internacional foram o pano de fundo das narrativas que se transformaram no meu primeiro livro-reportagem intitulado “London Calling – histórias de brasileiros em Londres”. O trabalho foi lançado no Teatro Augusta e na Bienal do Livro, ambos em São Paulo, em 2012, pela editora Giostri, que apostou na ideia de transformar o que foi originalmente o meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Jornalismo na PUC-SP em uma obra comercializável.

Fui a Londres com a missão de aprimorar o meu inglês, mas a bagagem cultural incorporada foi tão transformadora que me inspirou a escrever esse projeto aos 23 anos de idade.

Com o produto em mãos, consegui me destacar em um processo seletivo para trabalhar como repórter do jornal Folha de S.Paulo, veículo que fiquei até 2014. A experiência serviu como meu cartão de visitas para a vida profissional. Mas, para além do mercado de trabalho, viver um intercâmbio mudou a minha forma de ver, encarar e, finalmente, viver a vida”.

Adriana Farias é jornalista do Núcleo de Reportagens Especiais e Investigativas da Record, e conta com passagens nos veículos Veja São Paulo, Folha de S.Paulo, TV Cultura e RedeTV!

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